Eu certamente poderia passar uma semana no para-peito da janela do quarto analisando o movimento.
E em semanas póstumas me acompanhariam os livros, o cachorro, e por fim o telefone que me inserisse de alguma forma no meio externo de pó.
Passado um mês de semanas gradativa e saborosamente ociosas, sentiria a ânsia de me locomover ao movimento dantes analisado.
Enquanto iria à rodovia a qual passava o vendedor de acarajé alto e mestiço, o casal de velhos na velharia do jogo de damas da esquina permaneceria frente a frente, cara a cara, peito a peito.
Enfim encaixei-me no caixote de cimento podre, e esperei a batida...
A mesma carroça, o mesmo bode, o mesmo bonde, e um cheiro de dendê.
Um cheiro.
Minha vida mudando desde que estivera metros abaixo da minha janela. O mundo era cego, ninguém me via. Pedi pão: ninguém me ouvia.
E na nova semana me levantei, e me arrastei pelos cabelos de Rapunzel rumo ao meu para-peito de metro e meio...
...E dali voei. Voei e o mundo gritou pra mim, e eu para o mundo.
O mundo que era meu, o mundo que mudou. O mundo que, ai Deus!, por fim acabou.
ain que lindoo, eu lembrei agora de você me explicando esse conto!
ResponderExcluiradorei, adorei
e foi escrito na sua vizinhança!
ResponderExcluirDeve ser perfeito saber a explicação desse conto... mas fico com o mistério implacável =)
ResponderExcluiré só a história de alguém que se sente preso pela monotonia. e que de repente, de alguma forma, liberta-se.
ResponderExcluiradorei! =)
ResponderExcluirum dia, quando eu tiver coragem, conto aqui como fiz esse texto. foi algo tão inusitado e repentino, que esse texto tornou-se o meu preferido!
ResponderExcluirÉ a libertação do cotidiano, da fuga bucólica aos arredores de uma cidade situada a movimentação rapidez e irracionalidade, estar sempre ao topo, esgueirando uma janela não é um sentimento voyeur.Adorei, emocionante!
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