sexta-feira, 9 de julho de 2010

Astigmatismo

Há tempos que este grafite não samba num pedaço de papel. E num momento quase transitório e inoportuno, a força da mente fraquejou, e as linhas de energia tão tênues e belas começaram a se perder nesta vasta memória.
Marcaram um famoso e até piegas ''tempo áureo'', as luzes que fluiam da bola alaranjada do céu até os movimentos mais frenéticos do corpo, e que passavam de forma direta e sem o menor vestígio de sombra pelas curvas mais saborosas do cérebro, numa espécie de libertinagem. E então, o tempo voou livre e sadio, trazendo consigo as mais firmes peças para a grande e nova construção: pessoas e sentimentos, entre agrupamentos e individualidades, sem limite fixo.
Então, a partir da união de todos esses elementos sempre dependentes, surge o momento do parto: o Sol, sua luz, cor e energia, em metros e metros de papel e de memória.
Surge o júbilo, a ternura e a esperança. A paz e a sinceridade. Os cinco (ou seis) sentidos, com destaque à audição. A consciência e o respeito. E assim, a solidificação do indivíduo.
E depois desse grande círculo de energia, surge a fadiga, e aos poucos, a sombra começa a vencer a luz. E por fim anoitece.
Os velhos papéis se escondem na vasta escuridão, contemplando o toque, agora extremamente mais leve, das cores sobre os olhos. Mas em pouco tempo, surge também um pequeno vazio, que tende a aumentar à medida que se diminui o reconhecimento do fato, e que o caminho tão bem traçado desaparece através dos olhos.

Eu só preciso compreender.

Eu quero o meu Sol!

Eu..

Eu...

E por fim um homem apresenta o novo caminho:
- Está aqui. Tome seu mundo de vidro.

Astigmatismo.