domingo, 24 de janeiro de 2010

Vivência


Na verdade penso em outro lugar.
Penso na essência do tabaco nato,
mato morto, fogo corrente,
brisa forte do mar.


Cantar das ondas,
suspiro do vento,
telhas encardidas,
molhadas, queimadas.
Gente nova e velha;
gente feliz.
Risos e estórias;
armações à luz da lua na calçada.


Trovoada, pés sujos,
melados de areia grudenta.
Cobra, cachorro sarnento,
bicho-de-pé e de porco.
Cavalo ferido,
boi abatido,
homem de olhos diferentes,
gato de um olho só.


Cheiro de tinta,
cheia de terra.
Caju e castanha torrada,
carne assada na toada da noite.

Sol amarelo-laranja,
chuva macia,
suco de manga.


Comer até estourar,
tubaína, cuscuz e mungunzá.
Cansanção, escuridão, vela acesa,
lanternas em buracos de areia.
Siri, guaiamum e caranguejo,
côco verde no coqueiro lá do beco.

Pôr-do-sol, caminhada, quebra-mar,
banho de chuva, de mangueira e de luar.
Banheiro que aparece até gia,
tubarão que cheira à melancia.


Feridentas e traquinas crianças,
que faziam de um rabo, uma trança.
Aprender a andar de bicicleta,
rala joelho, rala mão e quebra a testa.


Menininha que dorme bem lá na rede,
ouve estórias de estrelinhas bem brilhantes.
Vai fechando os seus olhos cintilantes,
e em seu sonho, lua-sol com tinta verde.